ARTIGOS

COMPORTAMENTO DE UM ADOLESCENTE

DR. PAULO DELGADO

5 MAIO

Olá! Eu sou o Manuel e tenho 12 anos!

Hoje foi mais um dia igual a todos os outros. Sempre a mesma rotina. Acordar, escola, casa, dormir. Sempre a mesma coisa.

Lá levei mais um ralhete, mais uma chamada ao gabinete do director. O costume. Com os meus amigos não se metem. Depois não quero saber, “é” e “vai” como for.

A minha mãe está farta de dizer para me acalmar e não me meter mais em bulhas. Diz que não quer ouvir mais queixas. Eu vou tentando mas há sempre alguma coisa que me chama. Quando dou por mim, já está!

Na sala a professora está sempre a mandar-me calar e parar quieto. Parece uma abelha, bzz bzzzzz bzz. Por um lado é verdade, atenção não é comigo. Aquilo também é uma seca! Olhar pela janela é muito mais giro! Passarinhos, pessoas, carros! Há mais coisas interessantes para ver!

Não gosto muito de estudar e acho que é uma seca ler. Quando tento demora tanto tempo que me chateio. Ficar sentado na cadeira mais de 10 minutos é para esquecer. Qual é o interesse de estarmos sempre a fazer as mesmas coisas?! Ficar 3 horas sentado, é uma alucinação. Isso só acontece quando me meterem cola na cadeira (ia ficar bem irritado). Aquela sala sem mim não é a mesma. Os meus colegas ainda se riem um bocadinho comigo. Às vezes também me dizem para me calar, mas pronto.

 Há uma coisa que eu tenho de fazer: tenho de organizar os meus cadernos. Estão uma nódoa. Se a minha mãe visse… Ui! Eu é que lhe mostro sempre o mesmo… o mais bonito! Entretanto tenho de pôr os outros bonitos também. Os testes estão a aproximar-se e vamos ver se consigo colocar a cabeça no lugar. Vai ser difícil. Começo a estudar mas logo aparece qualquer coisa para fazer. Lembro-me da televisão, da playstation, ou do futebol, aquilo que eu mais adoro. De qualquer maneira, “tenho de me pôr a pau”. Se as notas são más, acabaram-se os treinos. Não pode ser. Ainda por cima agora que há um torneio lá na escola e eu sou o marcador de serviço da minha turma.

Em casa a minha mãe chateia-se comigo. Está sempre a dizer que não faço o que ela manda. Não é mentira e eu sou um preguiçoso é verdade, mas, muitas vezes, nem é por mal, nem por preguiça. É mesmo porque as coisas se varrem da minha cabeça e depois passa o tempo e … Ups! Sou um bocadinho aluado.

Tenho sempre tanta coisa, que há sempre algumas que ficam por fazer. O mal é pensar em tudo ao mesmo tempo. Às vezes parece que tenho tudo mas quando olho à volta, parece que não tenho nada. Olho à minha volta e estou cheio de gente a jogar à bola comigo, mas, quando o jogo acaba, não fico com ninguém para conversar e fazer outras coisas. Parece que as coisas ficam sempre por ali. As coisas ficam sempre pelo inicio.

Os meus colegas devem pensar que eu sou a pessoa mais feliz do mundo por ser o melhor no desporto, por fazer malandrices, sempre a rir, a falar, a não parar um bocadinho por ter sempre tanto para fazer. Tudo isso é verdade, não digo que não, mas às vezes as aparências iludem. Ao ter tudo não se tem nada. Ter muita coisa mas cada uma por tão pouco tempo, fica sempre a sensação de que falta alguma coisa e que nada se completa. Passa tudo tão rápido e tão à superfície, que nada é estável. Parece que falta um ponto de apoio.

Acho que só conseguirei isso quando me auto-controlar para perceber até onde posso ir. Não ter limites não é bom. Eu cada vez mais tenho a certeza disso.

Paulo Lourenço Delgado

(Técnico Superior de Reabilitação Psicomotora)

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